domingo, 3 de maio de 2015

Músicos x streaming: quem lidera as batalhas contra as plataformas

Capítulo 2 - quem está nessa guerra

Quem lidera a disputa entre artistas e streaming no Brasil.

Dois casos no exterior mostram que a vida das plataformas musicais talvez não seja tão fácil como se imagina


Ringue de boxe: analogia para as disputas entre artistas e plataformas musicais

Olá.

No primeiro post sobre a questão, introduzimos a pendenga entre artistas e empresas de streaming musical, tendo como ponto central a baixa remuneração por esses serviços, especialmente o Spotify. Destacamos que a discussão não está restrita apenas ao Brasil, mas sim em diversos países. Explicamos sucintamente o que é o serviço de streaming e quais são os principais serviços.

Vamos, agora, para o segundo capítulo do tema: quem lidera a disputa no Brasil. Veremos também dois casos no exterior que mostram que a vida das plataformas talvez não seja tão fácil como se imagina, a depender dos artistas.

Como vimos, um artigo do empresário Carlos Taram, pós -graduando da FGV, levantou a bola, ao afirmar que um dos maiores problemas dos serviços de streaming é a falta de transparência com relação aos valores pagos.

Em paralelo, o Google entrou com ação na Justiça brasileira contra o pagamento de direitos autorais - o que vamos abordar mais detidamente no próximo post.

Quem está do atuando ativamente lado dos de quem compõe, passa horas nos estúdios, cria melodias, ou seja, está totalmente e diretamente envolvido no processo criativo são basicamente três grupos: a Associação Procure Saber, o GAP - Grupo de Ação Parlamentar Pró-Música e a União Brasileira de Músicos (UBEM).


O Procure Saber é uma associação composta por cantores e compositores, presidida pela empresária Paula Lavigne, e com um conselho deliberativo composto por Caetano Veloso, Chico Buarque, Djavan, Erasmo Carlos, Gilberto Gil e Milton Nascimento. Segundo definição que consta na página da própria entidade, "dedicada a estudar e informar os interessados e a população e geral sobre as regras, leis e funcionamentos do mercado brasileiro e mundial",

Ficou nacionalmente conhecido ao encampar a bandeira do cantor Roberto Carlos contra a biografia não autorizada, defendendo a autorização prévia dos biografados. Como se sabe, Roberto Carlos vetou via Justiça a edição e venda do Livro escrito por Paulo César de Araújo, "Roberto Carlos em Detalhes" e ao saber da atuação do Procure Saber na defesa de uma melhor distribuição do direito autoral, aproximou-se do grupo a fim de apoio.

O fato gerou uma das maiores polêmicas do meio musical na mídia e de certo modo deu ao grupo a possibilidade de se organizar e estruturar para o objetivo inicial. O grupo reúne nomes das mais variadas e importantes linguagens musicais. 

Um dos "batizadores" do grupo, o cantor e ex-ministro da Cultura Gilberto Gil avalia em entrevista ao site da Procure Saber que os profissionais diretamente envolvidos com música tornaram-se "cada vez mais especialistas, mais voltados para os aspectos do seu trabalho", ao explicar porque a entidade reúne artistas dos mais variados segmentos musicais.

O GAP, que completou dez anos no último dia 1º de maio, é outra associação muito atuante no debate sobre direitos autorais, com atuação mais voltada ao Parlamento, próxima dos legisladores.  Liderado pelo cantor Frejat, o grupo diz em sua página no Facebook que "luta por mudanças legislativas que tragam soluções aos problemas que afetam o setor musical".


Ivan Lins, Fernanda Abreu, Frejat, Tim Rescala e Ivan Guimarães Lins, 
no Supremo Tribunal Federal:
 GAP atua próximo a parlamentares em favor do setor musical
(Divulgação GAP/Facebook)

Por ser mais antiga nesse campo, acabou inspirando a formação do Procure Saber, como comenta Gil. " O movimento nasceu porque já havia iniciativas nessa direção. Os meninos do GAP, Frejat, Tim Rescala, Leoni e seus companheiros, já vinham mobilizados há algum tempo, acompanhando de perto essas questões do dia a dia e outras questões polêmicas e históricas do direito autoral", destacou Gil.

Já a UBEM é uma das associações que integram o Ecad, entidade responsável pelo recolhimento dos recursos dos direitos autorais. A ação dela está mais associada à do Google,  que debate na Justiça o pagamento dos direitos autorais à entidade - o tema do próximo post.

Criada há cinco anos (exatamente em 5 de maio de 2010), a UBEM representa editoras musicais, empresas que publicam, editam, ou administram obras musicais. A briga com o Google, especialmente por causa do YouTube, tem relação direta com empresas de streaming, dada a operação do serviço de video do maior buscador da internet, do volume de acessos - mais de um bilhão de usuários - e do potencial de mercado - o próprio YouTube pretende lançar um serviço de streaming pago.

No exterior
A briga não é apenas restrita ao Brasil. Quase que ao mesmo tempo em que lançava seu mais novo álbum, 1989, a cantora Taylor Swift rompeu com o Spotify e retirou todas as músicas do site. Poderia parecer apenas uma decisão isolada, mas neste caso, estamos lidando com uma cantora que liderou as indicações ao Billboard Awards 2015 - com 14 das 40 possíveis - e foi eleita uma das 100 pessoas mais influentes do mundo, segundo a revista Time.

Isso dá a medida da repercussão da sua atitude. Ela escreveu em julho um artigo para o Wall Street Journal em que comentou sobre sua decisão, afirmando especialmente que a pirataria e os serviços de download e streamming derrubaram as vendas físicas  e que ela sentia-se mal remunerada por essas plataformas - ainda que o Spotify pague 70% de suas receitas para as gravadoras.

A questão foi tão impactante que o presidente do Spotify, Daniel Ek respondeu à cantora, afirmando que já pagou US$ 2 bilhões para artistas, compositores e selos musicais, sendo US$ 1 bilhão desse total apenas no último ano de atividade.

Há algumas semanas, o debate lá fora voltou à tona com a criação do Tidal, serviço de streaming cujo líder nada mais é do que o cantor Jay-Z, com o discurso da melhor remuneração do artista. O foco é claro: bigar diretamente contra o Spotify, o líder da turma.

Além de sua mulher, Beyoncé,  nomes como Madonna, Rihanna, Alicia Keys, Usher, Chris Martin (Coldplay), entre outros, também são donos da plataforma, nascida para ser o streaming controlado pelos artistas.

O Tidal tem 25 milhões de músicas e cerca de 75 mil vídeos. O problema é que nas semanas seguintes ao lançamento, o site não teve o desempenho esperado pelos donos, deixando de figurar entre na lista dos 500 aplicativos mais baixados no iTunes e no Goggle Play nas semanas seguintes.

Os motivos são os valores cobrados para assinatura, entre 7 e 14 euros, e a existência de uma grande oferta de concorrentes, como o próprio Spotify, Deezer, Rdio, Last.fm e Pandora, entre outros.

De qualquer modo, Jay-Z afirmou no Twitter que outros serviços, como o Spotify, levaram anos para se estabelecerem. " “A loja iTunes não foi construída em um dia. Demorou 9 anos para o Spotify se tornar um sucesso”, disse".

No próximo post, vamos detalhar um pouco mais da questão que envolve o YouTube e os artistas brasileiros - uma batalha que levou o Ministério da Cultura e a Justiça a se envolverem diretamente.

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